A diva da ópera Maria Callas é o foco do novo filme do diretor Pablo Larraín, uma das estreias da semana nos cinemas brasileiros. Com Maria Callas, o cineasta chileno fecha uma espécie de trilogia de cinebiografias de mulheres famosas, iniciada com Jackie (2016), sobre Jacqueline Kennedy, e depois com Spencer (2021), destacando a Princesa Diana, de Gales.
A estrela Angelina Jolie
interpreta a soprano greco-americano em um recorte que especula sua última
semana de vida, em 1977. Afastada da carreira há alguns anos e sem mais a
grande voz que a tornou uma celebridade mundial, Maria (nome original da
produção) vive reclusa em seu apartamento de luxo em Paris, tendo como
companhia o mordomo Ferruccio (Pierfrancesco Favino, de O Traidor) e a serviçal
Bruna (Alba Rohrwacher), que fazem de tudo para agradá-la, incluindo mover um pesado
piano pela casa, ao bel prazer da cantora.
O roteiro de Steven Knight (Spencer,
Coisas Belas e Sujas) mostra a artista em um estado de forte depressão,
sobrevivendo a custas de remédios que a fazem fugir da realidade e ficar rememorando
os tempos gloriosos, além da grande paixão de sua vida, a qual nunca esqueceu,
o magnata grego Aristóteles Onassis (Haluk Bilginer, do ótimo Sono de Inverno),
com quem teve uma relação para lá de abusiva e que a deixou para ser casar com
Jackie Kennedy.
Larraín repete o esquema de
suas bios anteriores, trazendo um retrato fechado de um momento importante da
protagonista em questão. Mas ao contrário de Jackie e Spencer – centrados em
períodos curtos e decisivos nas vidas das retratadas –, há mais espaço para
contar fatos importantes da vida de Callas, como sua surpreendente estreia nos
palcos. Retratados em bela fotografia preto e branco – também presente na
abertura, que mostra Jolie em close interpretando a soprano cantando a ária "Ave
Maria", da ópera Otello –, são momentos em que a personagem delira em uma entrevista fictícia a
uma rede de TV que só ela vivencia, pois está sob o efeito de remédios. O nome
do entrevistador (Kodi Smit-McPhee, revelado em A Estrada) é Mandrax (nome de
um forte sedativo hipnótico que não é mais fabricado), em referência aos comprimidos que
Maria toma escondido dos empregados – uma escolha um tanto infeliz do
diretor, pois revela de cara algo com o qual poderia manter o espectador em
dúvida, entre o real e o imaginário, da conversa existir realmente ou não.
Angelina Jolie, que canta de verdade em algumas sequências, tem uma
atuação competente, talvez uma das melhores de uma carreira que não teve muitos
papéis de destaque realmente artístico. Ela é uma das cotadas a indicação a
melhor atriz principal no Oscar deste ano, mas, nas últimas semanas, seu nome
perdeu um pouco de força, pois não foi lembrada nas listas para a premiações do
SAG (sindicato dos atores nos Estados Unidos) e do Bafta (o Oscar britânico).
Dessa forma, talvez não repita Natalie Portman e Kristen Stewart, que foram
indicadas à estatueta dourada, respectivamente, por Jackie e Spencer.
Favino e Rohrwacher, os
atores italianos coadjuvantes, também têm boa presença na tela. Mas a abordagem
proposta por Larraín dessa vez não funciona completamente. Há boas sequências –
como um imaginado encontro de Callas com John Kennedy, ou Maria e irmã cantando
obrigadas para nazistas durante a Segunda Guerra Mundial –, mas não há nuances
na personagem central, que é apresentada sempre de forma unidimensional, apenas
uma mulher narcisista – não que as grandes estrelas não sejam, mas não somente
isso – e amargurada, pois seu tempo de glória não mais voltará, o que torna uma
difícil uma maior conexão com o espectador. Cotação: Bom.
Trailer de Maria Callas:
Crédito da foto: Divulgação
Diamond Films