Robert Zemeckis tenta emular Forrest Gump em Aqui – FILMES, por Rudney Flores



 Não apenas os quadrinhos de heróis, com as aventuras da Marvel e da DC, inspiram o cinema. Já há algumas décadas, obras visuais dos mais variados gêneros foram transportadas para as telas, resultando em trabalhos de sucesso como Estrada para Perdição, Sin City e 300. A nova adaptação das HQs que chega aos cinemas é Aqui, do premiado diretor Robert Zemeckis, umas das principais estreias desta quinta-feira (16) no Brasil.

O filme apresenta a um público maior do cinema a obra homônima do artista gráfico Richard McGuire, lançada em 2014. Predominante visual, a ambiciosa graphic novel é realizada a partir de um único ponto vista, a sala de estar de uma casa e o que acontece nela e no campo de visão dela desde o início dos tempos até a atualidade.

Esse enredo é ponto de partida para Zemeckis tentar emular Forrest Gump, seu projeto mais vitorioso, 30 anos após seu lançamento. O diretor traz para Aqui o casal protagonista do longa-metragem vencedor de seis Oscars, Tom Hanks e Robin Wright, que vivem o casal Richard e Margaret, além do tradicional parceiro roteirista Eric Roth. A ligação entre os filmes é a passagem do tempo, mas ao contrário de Forrest, que está sempre em movimento e participa involuntariamente de diversos fatos marcantes da história norte-americana, dessa vez, parte-se de um ponto fixo e tenta-se trazer alguns momentos da trajetória dos Estados Unidos para dentro da sala em questão.

Aqui traz representações de períodos diferentes da história norte-americana, através de seis grupos, todos vivendo na região da casa central ou nela: os índios nativos, no século 17 ou 18; a família de um filho ilegítimo de Benjamin Franklin, um dos pais fundadores da América, no final do século 19, e cuja casa colonial é a principal visão da sala de estar protagonista; a família de um homem apaixonado pela recente invenção do avião, no início do século 20; um casal em que o homem é o inventor da cadeira reclinável e com extensores de pé, nos anos 1930; a família de Richard, que vive mais de seis décadas no local; e uma família negra, já no anos 2010/20.

Replicando o visual da HQ, vão sendo abertas janelas na tela, que fazem as pontes entre as diversas eras representadas. O recurso é usado várias vezes, principalmente na parte inicial da produção, cansando um pouco o espectador pela repetição. E mesmo com seis tramas acontecendo ao mesmo tempo, nenhuma dela consegue chamar grande atenção da audiência. A maior parte das histórias foram pouco desenvolvidas e só estão lá para fazer o jogo das janelas – no caso dos índios e da família negra, talvez até para constar a diversidade exigida nas produções dos tempos atuais. Os fatos históricos vão sendo jogados a esmo, como referências à gripe espanhola e à pandemia da Covid-19, ou a primeira apresentação dos Beatles nos Estados Unidos.

O foco é mesmo família de Richard, na qual também recebem destaque o pai Al (Paul Bettany, o Visão dos filmes e séries da Marvel) e a mãe Rose (Kelly Reilly, de O Voo), que compraram a casa logo após o patriarca voltar da Segunda Guerra Mundial. Mas os personagens não são muito interessantes, há apenas um ou outro conflito maior, os quais acabam gerando os poucos bons momentos do filme – alguns embates entre Hanks e Wright, que são rejuvenescidos por computador em vários momentos, técnica que já é mais surpresa para os espectadores.

Aqui confirma o problema de algumas adaptações de quadrinhos para o cinema. As HQs têm uma dinâmica própria e simplesmente transportá-las para a tela dificilmente funciona – é o que acontece com os dois filmes Sin City, de Robert Rodrigues, por exemplo, belos visualmente, mas engessados e travados em seu desenvolvimento. Cinema exige também histórias interessantes e bem estruturadas, e faltou a Zemeckis dar uma atenção maior exatamente a essa parte crucial. Cotação: Regular.

 

Trailer de Aqui:

 




 

Crédito da foto: Divulgação Imagem Filmes