O diretor norte-americano Steven Soderbergh teve um período de muito sucesso entre o final da década de 1980 e meados dos anos 2000, quando venceu o Festival de Cannes por sexo, mentiras e videoteipe (1989), foi indicado ao Oscar de direção por dois filmes no mesmo ano, em 2001 – por Erin Brockovich e Traffic, vencendo por este último –, e ainda realizou a trilogia de filmes dos Homens e Segredos.
O cineasta até falou em
aposentadoria após esse período, mas nunca cumpriu a promessa e seguiu
realizando diversos trabalhos continuamente, passando a exercitar vários
estilos. Seu mais recente filme é o terror/suspense Presença, que estreia nesta
quinta-feira (3) nos cinemas brasileiros. É uma nova colaboração com o
roteirista David Koepp – a ação Código Preto, outra produção da dupla lançada
este ano, ainda está em cartaz em Curitiba –, um verdadeiro operário da função
em Hollywood, também responsável pelos primeiros filmes das franquias Jurassic
Park e Missão: Impossível, entre outros.
Presença é centrado em um
núcleo familiar. Rebekah (Lucy Liu, de Kill Bill – Vol. 1), Chris (Chris
Sullivan, da série The Knick, também de Soderbergh) e o casal de filhos Tyler (Eddy
Maday) e Chloe (Callina Liang) mudam-se para uma nova casa, após a jovem sofrer
um grande abalo psicológico com a morte da melhor amiga. A família tem seu elo
mais forte na esposa, que se sobrepõe de maneira forte ao marido e tem clara
predileção pelo filho, demonstrando pouco interesse pela situação da filha. A dupla
de irmãos vive em atrito e Chris tenta conciliar a todos, além de esconder suas
frustações com um casamento que parece estar por um fio. Outro personagem que
logo aparece na trama é Ryan (West Mulholland), amigo de Tyler e interesse de
Chloe.
Na realidade, todos têm seus
segredos, que vão sendo apresentados ao espectador pelo olhar do fantasma que
habita a casa, a presença sentida no início apenas por Chloe e representada por
uma câmera subjetiva, que acompanha tudo o que acontece como se fosse o olhar
do próprio espectador, mais um exercício de estilo do diretor – não inédito, já
realizado em produções de outros cineastas.
Esse fantasma desconhecido (a
amiga de Chloe, alguém morto no próprio local?) percorre a casa olhando por
janelas, pelas escadas , através de armários, e conferindo sempre de longe os
diálogos entre os personagens. O sobrenatural é confirmado com seu poder de
mexer alguns objetos. Para tornar o ambiente mais sombrio, Soderbergh adota uma
iluminação indireta, com a luz vindo apenas de abajures nas cenas noturnas, mesmo
havendo lustres na casa.
Apesar do lento
desenvolvimento, o suspense funciona na maior parte do tempo e, como em todo
filme de gênero, o espectador vai criando expectativas pela resolução do
mistério. Mas o desfecho acaba sendo bem frustrante, prejudicando em muito um
filme que, se não indicava ser um trabalho de destaque do cineasta, ao menos caminhava
bem nas interpretações de Liu e Sullivan. O final mal elaborado é uma espécie
de combinação da preguiça do obreiro David Koepp no texto e um certo descaso de
Soderbergh, que confirmou estar mais preocupado mesmo com a estética do que com
a história. Cotação: Regular.
Trailer de Presença:
Crédito da foto: Divulgação Diamond
Films Brasil